Autor: Cristian F C Faria
Somos latinos ou ocidentais?
Originário do latim “occidens” (“pôr do sol, oeste”), o termo “ocidente” refere-se a diversas nações, cujas características podem variar dependendo do contexto histórico ou político.
Inicialmente, o sentido do termo era geográfico, utilizado para distinguir a Europa do Oriente Médio e do Extremo Oriente. No entanto, com o passar do tempo, “ocidente” adquiriu um significado político, abarcando um conjunto de valores e práticas que transcendem fronteiras meramente territoriais.
O ocidente hoje é compreendido por sociedades laicas dirigidas por estados impessoais e supostamente técnicos, geridos por burocratas supostamente eleitos com base na razão.
O Brasil, muitas vezes se vê excluído pelos os países ditos ocidentais. Dando espaço para o estreitamento de laços com o Oriente, através do BRICS. O Brasil foi privilegiado por ter vizinhos fracos e está distante o bastante para amenizar ameaças de países centrais.
A única exceção que afetaria o Brasil de forma séria, foi durante a guerra dos 30 anos com êxito temporário holandês, mas graças a resistência cultural do nordeste eles não conseguiram criar raízes na região.
Influência espanhola:
Culturalmente, o Brasil assimilou certas características culinárias, musicais e linguísticas dos espanhóis, embora essa influência seja menor em comparação com a significativa presença das culturas tupi e bantu. Essas culturas foram responsáveis por transformar o português brasileiro, moldar o regionalismo e influenciar profundamente as celebrações e a culinária do país.
A cultura castelhana teve maior destaque na região sul do Brasil, onde deixou marcas políticas e culturais, como a Revolução Farroupilha. Essa influência se manifestou em aspectos vestimentais e comportamentais, mas foi gradualmente suplantada pela identidade brasileira, que se consolidou através do contato e da integração com outras regiões do país. Além disso, a ideia de ‘La Hispanidad’ sempre encontrou resistência entre os intelectuais brasileiros. As características únicas do Brasil o faziam como uma flor rara na América.
Influência Americana:
Utilizando o discurso da libertação e da geográfia, tendo um continente compartilhado, os Estados Unidos criaram uma narrativa de um pan-americanismo que nunca foi uma realidade.
Um exemplo disso é a Doutrina Monroe, que surgiu quando os países hispânicos estavam vulneráveis logo após se tornarem independentes da Espanha.
os Estados Unidos não abandonaram o conceito de superioridade racial do anglo-saxão sobre o latino, na realidade eles nunca se consideraram irmãos dos países latinos. Na prática, enquanto os latino-americanos acreditavam na Doutrina Monroe, que dizia protegê-los da Europa e não admitir monarquias no continente, os EUA mantinham boas relações tanto com a Europa quanto com o Brasil.
Essas promessas, só os latino-americanos levavam a sério, destacaram uma relação complicada onde os Estados Unidos usavam a ideia de proteção para seus próprios interesses estratégicos.
Influência Europeia:
No século XIX, o Brasil se isolava da influência hispano caudilhesca e norte-americana, mas ao mesmo tempo se abriu profundamente afetado pelas tendências da moda inglesa e francesa, que permearam toda a elite ilustrada. Esta elite promovia uma cultura eurocêntrica em detrimento de um desenvolvimento tropical mestiço que se caracterizou o período colonial.
O pensamento iluminista radical era contido no Império, mas era o apogeu dos liberais moderados, uma corrente classista do mesmo liberalismo, dando desprestígio a cultura luso-tupi-bantu, vista como antiquada e colonial. Propunha-se substituí-la por uma cultura moldada pelos padrões anglo-franceses.
Isso demonstra como o Brasil estava submerso na influência atlântica, que o mantinha preso e dificultava a construção de uma identidade nacional baseada em suas próprias experiências.
Com a transição do regime monárquico para o republicano, as elites brasileiras mantiveram a mesma mentalidade, embora gradualmente fossemos periferizados pelos Estados Unidos. Oficialmente, valorizavam a Europa, enquanto o Brasil real, patriarcal e agrário, preservava suas raízes africanas, tupis e lusitanas.
O fortalecimento do romantismo e nacionalismo entre os anos de 1890 e 1930 culminou em uma revolução cultural que rompeu com a visão eurocêntrica, voltando-se para o estudo do Brasil autêntico, ao ver o Brasil se modernizar em tempo real, esse movimento levou a questionamentos sobre o que deveria ser resguardado do Brasil profundo e como as características comportamentais e psíquicas dos brasileiros se formaram.
A busca pelo passado permitiu uma crítica valorativa que resgatou o Brasil luso-tupi-bantu. O aprofundamento dos estudos comparados revelou a proximidade do Brasil com países africanos, especialmente os luso-africanos, questão crucial para a diplomacia décadas depois, quando Angola e Moçambique conquistaram independência e receberam rápido reconhecimento e aproximação diplomática do Brasil.
Ficou evidente o destino do Brasil na África e sua artificialidade dentro do contexto americano e europeu. Atualmente, o Brasil exporta novelas, músicas e até youtubers tanto para sua antiga metrópole quanto para ex-colônias de portuguesas, consolidando-se como líder da nova lusitania.
Tudo indica que o destino geopolítico inevitável do Brasil é o africanismo, buscando raízes comuns com Angola, Moçambique e o resto do mundo lusitano. Nem ocidental nem oriental, a busca da luso-esfera como um mundo independente, um mundo próprio onde o Brasil é o grande líder desse empreendimento civilizatório.
Escrito por: Cristian F C Faria