Autor: André K.
07 de setembro de 2024
Em 14 de agosto de 1385, o exército português mortificado através de um duro jejum em honra a vigília da antiga festa de Santa Maria, foi surpreendido com uma saraivada de fogo do poderoso exército do rei castelhano, que abateu com fulgor a gente lusa, que ainda sim, se mantiveram animados pelo espírito do Condestável. Os pomposos juristas e gente de bom saber, que outrora aclamaram o mestre de Avis como rei, preocuparam-se, “por que isso está acontecendo conosco?”, certamente o declive aburguesado lisboeta desses homens nunca viram sangue luso correr, mas Dom Nuno Álvares num sentimento religioso, de uma predestinação tamanha a se cumprir, não tivera medo, pela sua santidade, coragem, pois eram fieis ao Papado de Urbano VI, batizados em sua estirpe, contra o cisma que os castelhanos aceitaram do antipapa de Avinhão, Clemente VII.
Mesmo com o ataque torrencial do inimigo, a graça de Deus se estendeu sobre o exército português como outrora havia se estendido em Ourique; o exército português vence, vence num sentimento singelo e alegre da formação de identidade nacional portuguesa, que não é nem castelhana, com sua descentralização e nem de forma pútrida e tirânica dos maometanos: mas portuguesa e nacionalista.
O drama ensanguentado de Aljubarrota só é possível ser entendido pela formação da nação portuguesa: a pátria não era exatamente concebida no conceito medieval, não havia chegado na consciência de muitos juristas do poder civil, ainda que havia sido considerada antes por Santo Tomás. O que havia era o Rei realizando o interesse do povo ali agregado organicamente, o que António Sardinha dizia ser o sistema precursor do nacionalismo que defendemos como monarquia tradicional. Já o espírito caótico que fez surgir a crise de 1384 era individualista da renascença e por isso antinacional, com inúmeras traições à pátria nascente e à nação lusa por simplesmente aceitarem a princesa Dona Beatriz esposa do rei castelhano como rainha legítima: esses nobres por sua vez, não se diferenciavam pois como portugueses ou como espanhóis, não havia identidade para eles, sua identificação se deu pela mera legitimidade e não mais pelos anseios das 3 classes que não queriam tal situação degradante.
Dom Nuno, por sua vez foi diferente, tendo em si as virtudes medievais notórias, defendeu a em germe pátria lusitana naquele tempo de crise, por isso possuía uma vocação extraordinária como que Santa Joana Darc: o chamado do povo em prol de um ideal comum, para a defesa de um património português que englobava não só as suas belíssimas instituições orgânicas, mas a defesa de todas elas de modo igual, sem individualismo,a própria defesa nacional, dessas instituições orgânicas, e bem a saber, a língua e os demais costumes que fazem portugueses serem portugueses.
De Aljubarrota então nasceu um nacionalismo institivo português, uma ação ordenada de uma nacionalidade, sendo pois reconhecida merecidamente a Dom Nuno pelos juristas. De Portugal nesse instante submerge uma pátria. Leiamos o que escreve Antonio Sardinha:
“A Grei vai surgir do choque doloroso duma hora mais longa do que as longas passadas dum século . E Portugal atira-se para o caminho do engrandecimento, com o seu génio já clarificado na vocação colectiva da nacionalidade que se conhece e possui enfim."
(Antonio Sardinha in Na Feira dos Mitos: Ideias e Factos, pág. 228)